domingo, 18 de novembro de 2012

Chinês ou italiano?

- Oi.
- Oi, tudo bem?
- Bem. Meu nome é Vítor.
- O meu é Catarina, prazer.
- Prazer, Catarina.

Pronto. A amiga do lado já foi logo dizendo que não era pra fazer assim. Que a gente tinha que dar dois beijinhos no rosto quando conhecesse ou encontrasse uma pessoa. Não era dizer oi e o nome. Não era assim.

Daí a Catarina pensou: porra, eu nem conheço. COMO QUE EU VOU SAIR BEIJANDO QUEM EU NÃO CONHEÇO?

- É educação, Catarina. Você não sabe disso? É educação.

Ok. Catarina nunca tinha se achado a mais educada das pós-adolescentes. Talvez fosse a hora de mudar. 

No outro dia conheceu Manoel. E Mariana, a amiga altamente educada estava do lado de novo.

- Oi.
- Oláá, tudo beeem? (dois beijinhos no rosto)
- Bem.
- Meu nome é Catarina. E o seu?
- Manoel, é Manoel. 
- Prazer, Manoel! 
- É, prazer.

Daí ele virou as costas e a Mariana foi logo falando de novo: 
- Catarina, você quase abusou sexualmente do menino. A gente não sai agarrando as pessoas assim sem conhecer. Ele tem namorada. A namorada dele é a Lúcia.
- Puta merda! Mas não era pra beijar quando conhecesse?
- Mais ou menos, mas não assim. Depende. Depende do menino, se é solteiro, se é extrovertido... a gente não sai assim beijando por aí!

A protagonista das cenas de conhecer rapazes ficou confusa. Era hora de mudar, mas tudo dependia.

A roupa de ir pra festa dependia da festa. Não podia ser muito brilhosa pro churrasco, muito vulgar pro casamento, muito colorida pro show de rock, nem muito arrumada pra faculdade. E não podia ser muito diferente de todo mundo, claro. A razão disso é que ali era a sociedade dos pós-adolescentes equivalentes. Nada de rodízios de massas quando a moda fosse restaurante chinês. Nada de ir pro paintball quando o bacana fosse o futebol de sabão. Nada de twitter, agora a onda era tumblr. E ainda faltava aprender a andar de salto alto, a usar maquiagem, beber até cair, ficar gorda pra reclamar de ser gorda, fazer dietas, ser depressiva, doente, alienada.

Catarina viu que muitos conseguiam. Eram os jovens vencedores da massa dos equivalentes.

Daí ela olhou pro lado. Olhou pro terceiro menino que devia cumprimentar. Olhou pra Mariana.
E passou reto.

Preferia mesmo ser uma perdedora. Uma perdedora de óculos, livro de francês na bolsa e havaianas indo pro rodízio de pizza.


[Prazer, eu sou quase uma Catarina.]

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