sábado, 17 de dezembro de 2011

Ana. Ama. Chama.

- Você conhece Ana?
- Que Ana?
- A Ana, aquela do cabelo curto preto, baixinha...
- Amiga da Julinha?
- É, ela mesmo.
- Só de vista.

Era assim que reconheciam a Ana. Alguns "só de vista", outros "só de falar oi".
Ana era moça observadora. Em silêncio, analisava fatos, palavras e pessoas. Não era um tipo antissocial, apenas um tipo reservado. Tinha coração limpo e sorriso estampado desde que não fosse o foco de alguma conversa. Viajava em seus pensamentos, imaginava, criava.
Pensavam que ela estava sempre bem. E para os outros estava mesmo. Coisa fácil é dizer que está bem. Quem não acreditaria? Repita duas vezes que logo acreditarão. Ana poupava explicações acerca de si, sabia que não era alguém para compreender facilmente, era tarefa árdua e o esforço não valia a pena.
Às vezes tinha alguém como namorado, pra desfilar ali entre os amigos. Ao lado deles sempre deveria se divertir. Deveria, afinal de contas para Ana nada era o que parecia ser. Certo dia, João Antônio chegou ao seu lado e vomitou um monte de palavras.
- Han?
João Antônio repetiu e Ana continuou olhando pro lado oposto ao dele.
Ele: - Eu não sou mais um de seus clientes que você finge prestar atenção, Ana. Você os engana fácil, comigo não é assim, não sou um deles.
Ana perguntou:
- Não?
Ele:
- Não, não sou.

E Ana sorriu e conclui que não era mesmo, porque para seus clientes olhava fundo nos olhos, ouvia palavra por palavra e se inquietava a cada pergunta, afim de encontrar resultados para acalmá-los. Olhou para João Antônio pela última vez, abriu a porta do apartamento velho dele, desceu as escadas e entrou em seu carro recém comprado, ouvindo aquela trilha sonora calma e sentindo cheirinho de novo, tentando fazer com que uma lágrima escorresse.

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